Com a proximidade do final do ano e a recente reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), nossos clientes desenham, tanto em suas atribuições profissionais, quanto pessoais, os contornos do próximo ano.
A taxa Selic foi fixada em 11,25% (onze vírgula vinte e cinco por cento), com aumento de meio ponto percentual, de acordo com a previsão do mercado, em resposta ao avanço da cotação do dólar. O cenário atual é de superação das previsões iniciais de crescimento da economia1, o qual deve fechar o ano em 3,3% segundo o IPEA e em 3% segundo o mercado2. Para os anos seguintes, a previsão é de continuidade na queda da inflação e de crescimento da economia em cerca de 2% tanto para 2025 quanto para 2026.
Em meio a um ambiente econômico geral mais favorável, vale trazer a atenção dos setores que tradicionalmente recebem investimentos3, nos quais tivemos e temos a oportunidade de atuar: imóveis, agro, energia, mineração, logística, financeiro/fintechs, healthtechs/biotecnologia e startups/tecnologia.
Se cada povo carrega suas tradições e comportamento quanto aos setores de investimento, não seria diferente com o investidor brasileiro. Para nós, o investimento em imóveis, urbanos ou rurais, traz a sensação de segurança. Faz sentido, considerando que temos um déficit habitacional considerável no país, bem como as tendências de mudança de comportamento com os avanços tecnológicos, que novamente apontam para concentração habitacional urbana. Naturalmente, o investimento em imóveis rurais no país que responde por um quinto do alimento global é inegavelmente importante.
Floresta Amazônica – Brasil
O Brasil se posiciona formidavelmente quando consideradas as principais economias mundiais no que diz respeito a energia limpa e aos índices de área preservada – sendo absolutamente necessário manter esse status com o cumprimento da legislação vigente. A base da nossa matriz energética foi constituída de forma limpa/renovável, que é eminentemente hídrica. O crescimento da capacidade de geração está calçado principalmente nas energias fotovoltaica e eólica, que somente em 2024 correspondem ao incremento de 9,1GW de potência em geração4.
É inegável que cortes de emissão precisam ser realizados, especialmente relacionados à logística de veículos de combustível fóssil, porém os esforços para a transição para os motores elétricos se intensificam e devem ser potencializados para alcance de metas no ritmo mais acelerado possível, visto que, conforme temos tristemente vivenciado, estamos perdendo a batalha na corrida para interromper o aquecimento global. A tragédia no Rio Grande do Sul em 2024 evidencia que, independentemente de o Brasil superar as demais economias na pauta, sofreremos todos com a desídia criminosa que nos trouxe ao patamar atual.
Se o Brasil se destaca em sua matriz energética em uma economia que dependerá cada vez mais de energia elétrica, o protagonismo no tema fica ainda mais evidente quando consideradas as reservas brasileiras dos minerais que pretendem revolucionar a capacidade de estocagem de energia, o principal obstáculo para a transição energética ocorrer de forma satisfatória. Se por um lado combustíveis fósseis são facilmente estocados e de vida útil longa, o mesmo não se pode dizer sobre a energia, que precisa ser gerada e transportada e ainda não é armazenável de maneira eficaz para grandes autonomias. A corrida para pôr a mão no novo “ouro” é tão relevante que ocasionou ataques diretos a pessoas e instituições brasileiras pela não exclusividade/acesso às reservas, conforme observou-se amplamente no decorrer dos últimos anos.
Quanto às reservas minerais brasileiras, a abundância não se limita aos minerais relacionados ao armazenamento de energia e de novas tecnologias. Os commodities brasileiros impulsionam o impressionante e acelerado crescimento chinês, ao qual o mundo assiste sem acompanhar na mesma escala.
O setor mineral movimenta o Brasil, em especial os estados de Minas Gerais e Pará, e representam um setor de investimento tradicional e de crescimento contínuo que continuarão a chamar a atenção dos investidores nacionais e internacionais.
Paula Figueiredo e Germana Barros na Exposibram, 2024.
Se observássemos as necessidades para permitir maior crescimento da economia brasileira, apostaria na logística nacional, cuja estrutura precisa urgentemente ser aumentada e otimizada. A alta regulação do setor e os altíssimos investimentos necessários são dois aspectos intimidadores para os investimentos, bem menores do que a nossa economia demanda. Todo progresso nesse setor impulsionaria as principais matrizes econômicas atuais, pelo que é um tema que merece nossa atenção e preocupação.
A alta regulação setorial, no entanto, não é sinônimo de obstáculo para investimento. Tão regulados quanto o setor de logística são os setores da Mineração e Energia e o Sistema Financeiro Nacional, sendo este o setor em que se concentram 10 dos 22 unicórnios5 brasileiros, número este que deve aumentar para 12 de 24 em 20256. Aliás, o destaque brasileiro no tema se deve em parte à alta regulamentação do setor, que o torna sensivelmente mais seguro do que os mercados de outros países. Além disso, a necessidade por soluções financeiras também é uma grande força motriz para o desenvolvimento de soluções no setor. No entanto, é a tendência de que a tecnologia elimine etapas e intermediadores que torna o setor tão atrativo: as partes envolvidas, ao eliminar etapas e intermediadores, podem dividir entre si o spread bancário.
O destaque brasileiro no tema, a meu ver, poderia ser ainda maior, já que a maior parte das soluções tecnológicas podem ser aplicadas em vários lugares e sistemas no exterior. Porém, é de se supor que dada a sensibilidade do tema e relevância estratégica em possuir as ferramentas que operam o setor com certeza influencia para que as ferramentas não sejam, ao menos por ora, adotadas por terceiros. Considerando, contudo, que nos tempos atuais o uso da melhor tecnologia pode significar vida ou morte de instituições, é possível supor que, ao menos em parte, algumas soluções possam, sim, ter seu uso expandido para fora do Brasil.
Fato é que o setor atrai muitos investimentos e a tendência é de que siga os atraindo não apenas em 2025, mas nos próximos anos. Outro setor que atrai bastante atenção é o de saúde: o investimento na saúde humana ocupa a pauta central dos setores público e privados. Segundo nos conta Yuval Noah Harari em “Homo Deus”, a próxima batalha que a humanidade pretende vencer é contra a morte.
Embora essa batalha ainda esteja consideravelmente longe do final, a revolução que vivemos na atualidade advém do fato de que aprendemos muito mais sobre saúde do que sobre doença quando conseguimos monitorar pessoas saudáveis por todo tempo, durante longos períodos, em contraponto ao monitoramento parcial das pessoas e com maior concentração nas doenças.
Além disso, a capacidade de reprodução de funções biológicas com mais e mais precisão descortina evoluções em períodos de tempo cada vez menores.
Smartwatches permitem a monitoração de saúde em tempo real
Como a demanda por soluções de saúde é perene e crescente, seja pelo aumento da capilaridade de nossos produtos e serviços a parcelas cada vez maiores da população mundial, seja pelos constantes reposicionamentos de objetivos, gerando demandas de forma incessante enquanto houver humanidade, considerando que o acesso a serviços básicos ainda não chegou a todos, é um mercado de oceanos azuis praticamente infinitos. Muito embora o desenvolvimento de novas tecnologias carregue consigo certa carga de risco, as possibilidades de ganho ofuscam tal carga.
No Brasil, lamentavelmente, vemos a diminuição sistemática do investimento em pesquisa e desenvolvimento e em educação, na contramão dos esforços para evolução humana. É de se lamentar, especialmente considerando que, mesmo sem incentivo, a academia brasileira produziu e produz mentes brilhantes, constantemente assediadas para êxodo para países que compreenderam a necessidade de fomento dessas mentes há séculos. Não é por acaso que nos dedicamos a contribuir para a elaboração do Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação no estado de Minas Gerais (Decreto Estadual no. 47.442/2018)7, na esteira da legislação federal sobre o tema8, a fim de gerar um ambiente mais propício para que a tecnologia desenvolvida na academia chegue ao mercado e, sobretudo, às pessoas. A tendência no investimento em tecnologia nacional, a nosso ver, deveria virar uma verdadeira mania que o potencial imenso de ganho é capaz de gerar.
E não poderíamos concluir esse texto sem mencionar o setor de tecnologia e inovação como um todo, a que nos referimos atualmente como “Startups”, que tanto marca nossa trajetória e dia a dia tanto no Figueiredo.Law, mas, especialmente, no nosso projeto “The Legals”.
Esse é o setor dito “na contramão das crises”, mas ao mesmo tempo controverso, ante as altíssimas expectativas de ganho e não tão raros fracassos tão épicos quanto as expectativas.
Fachada do banco Nubank na Bolsa de Nova York – Fonte: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/12/09/nubank-estreia-na-bolsa-como-4a-maior-empresa-brasileira-de-capital-aberto-e-banco-mais-valioso-da-america-latina-veja-ranking.ghtml
Importante pontuar de início que vários dos fatos constantemente atribuídos às startups não são nem de longe exclusivos delas: empresas nascentes sempre tiveram alta taxa de mortalidade, no mundo todo. Empresas nascentes são também fundamentais para o sistema econômico e para o progresso, razão pela qual os governos pelo mundo têm políticas públicas para incentivá-las, na medida em que são grandes responsáveis por empregos, crescimento na receita de impostos e pela oxigenação da economia em si. Ainda quando cursava o segundo grau, nos referíamos às empresas nascentes como “pequenas empresas, grandes negócios”, frase que hoje é o nome de uma revista/programa. Para referência histórica, as áreas de Direito Comercial e Societário são bastante complexas e desenvolvidas, com fontes anteriores ao império romano.
Ressalva feita, o investimento em empresas nascentes é sim um investimento de risco elevado. E, como normalmente se verifica da sistemática de ganhos com diferentes tipos de investimento, maiores riscos andam de mãos dadas com as possibilidades de maiores ganhos. Quando consideramos empresas nascentes, o investimento privado é ainda mais fundamental, já que o mercado financeiro normalmente não dispõe de produtos funcionais ou acessíveis para tal estágio de negócios (no mundo todo). Daí o esforço, especialmente na última década, rumo à educação financeira e mudança de postura dos investidores brasileiros, para que abrissem espaço para investimento de risco, para além dos setores mais tradicionais mencionados acima. E sim, já se nota uma evolução considerável neste aspecto. Além dos investimentos feitos diretamente por pessoas físicas, ou investimentos feitos por meio de fundos e grupos de investimento, como Family offices, temos inclusive iniciativa de um banco para investimento em startups9 que permitem pulverização de risco e investimento em pequenas quantidades por quaisquer pessoas.
Contribuímos de forma direta com os modelos dos novos negócios, colocando-os em pé e funcionando, assim como investimos diretamente em startups e seguimos no ímpeto de fomentar a cena de empreendedorismo e inovação nacional, disseminando conhecimento por meio de mentorias, palestras, promoção de eventos, apoiando projetos e empresas; e pela participação em processos legislativos que têm por objetivo consolidar as avenidas para os interesses dos envolvidos nesses novos modelos de negócios.
Após um longuíssimo e tenebroso inverno de cerca de três anos, as expectativas são de retomada de crescimento e investimentos em 202510, o que nos traz excelentes perspectivas de trabalho! Participe dessa crescente conosco: podemos contribuir para a alavancagem da sua empresa e/ou investimentos.
E na sequência traremos nossas considerações sobre cada um dos setores de que tratamos nesse texto. Até breve!
Paula Figueiredo
(São Paulo, novembro de 2024)